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terça-feira, 22 de março de 2011

O FILHO DO HOMEM


Apareceu um homem, entre esses milhões de
           habitantes terrestres...
  E esse homem veio tornar-se o centro da
            história da humanidade.
  Não fez descobertas nem invenções, não
 derrotou exércitos nem escreveu livros -
              esse homem singular.
 Não fez nada daquilo que a outros homens
garante imortalidade entre os mortais - o
 que nele havia de maior era ele mesmo...
Pelo ano do seu nascimento datam todos os
       povos cultos a sua cronologia.
    Possuía esse homem exímios dotes de
  inteligência - e infinita delicadeza de
    coração.
    A sua vida se resume numa epopéia de
    divino poder - e num poema de humano
                          amor.
   Havia na vida desse homem uma
   pátria e uma família - mas também exílio
                 e uma solidão.
 Havia inocentes com sorriso nos lábios -
    e doentes com as lágrimas nos olhos.
      Havia apóstolos - e apóstatas...
 Brincava nos caminhos desse homem a mais
bela das primaveras - e espreitava-lhe os
    passos a mais negra das mortes. Esse
     homem vivia no mundo - mas não era
                        mundo...
 Quando chegou, "não havia lugar para ele
  na estalagem" - quando partiu, só havia
  lugar numa cruz, entre o céu e a terra.
Esse homem não mendigava amor - mas todas
          as almas boas o amavam...
 Era amigo do silêncio e da solidão - mas
     não conseguia fugir do tumulto da
sociedade, porque "todos o procuravam"...
     Irresistível era o fascínio da sua
  personalidade - inaudita a potência das
                suas palavras...
  Todos sentiam o envolvente mistério da
 sua presença - mas ninguém sabia definir
         esse estranho magnetismo...
     Era uma luminosa escuridão - esse
                     homem...
  Não bajulava a nenhum poderoso - e não
       espezinhava nenhum miserável...
Diáfano como um cristal era o seu caráter
-e, no entanto, é ele o maior mistério de
              todos os séculos...
    Poeta algum conseguiu atingir-lhe as
    excelsitudes - filósofo algum valeu
        exaurir-lhe as profundezas...
  Esse homem não repudiava Madalenas nem
   apedrejava adúlteras - mas lançava às
     penitentes palavras de perdão e de
                      vida...
  Não abandonava ovelhas desgarradas nem
filhos pródigos - mas cingia nos braços a
    estes e levava nos ombros aquelas...
      Esse homem não discutia - falava
                 simplesmente...
     Não esmiuçava palavras nem contava
  sílabas e letras, como os rabís do seu
 tempo - mas rasgava imensas perspectivas
          de verdade e beatitude...
    Por isso diziam os homens, felizes e
  estupefatos: "Nunca ninguém falou como
              esse homem fala!"...
Para ele, não era o esquife o ponto final
  da existência - mas o berço para a vida
                  verdadeira...
   Por isto, vivem por ele e para ele os
  melhores dentre os filhos dos homens -
 porque adoram nesse homem o homem ideal,
                 o homem-Deus...
    
                     HUBERTO ROHDEN