Um dos questionamentos mais complexos e íntimos do relacionamento humano é
aquele proposto pelo casamento, ou seja, pela união de dois seres que procuram
a felicidade - cada um a seu modo - e que pode ter um resultado especialmente
gratificante ou desoladamente depressivo. O casamento oferece os extremos seja
da felicidade que da servidão humana, com um maior ou menor grau entre esses
dois pontos, muitas vezes permanecendo ‘no meio termo’.
Mas será que essas uniões são predestinadas? Será que é necessário que um
parceiro encontre a felicidade no casamento enquanto outro experimente somente
a tragédia nessa mesma instituição? Em que condições - se elas existem - essas
circunstâncias se baseiam? Quando o casamento é aconselhável ou
desaconselhável? É possível determinar por antecipação se existe uma outra
pessoa com a qual a felicidade seja possível, uma pessoa que realmente nos
complete e nos proporcione a tão almejada felicidade? O que nos leva a procurar
esse parceiro ideal, ou idealizado?
Mais prudente seria afirmar que a maioria dos casamentos é o resultado de
uma irresistível atração física. Especialmente quando são feitos na juventude,
onde os fatores hormonais e físicos têm maior peso sobre as decisões de cada um
de nós. E isso também explicaria também a razão do alto grau de divórcios na
sociedade moderna.
Pois é, um casamento bem sucedido deveria também ser baseado na compreensão
do processo de reencarnação. Isso quer dizer que uma pessoa deveria encontrar
seu par não só fisicamente como espiritualmente e compreender que é através
dessa união que ele terá a oportunidade de evoluir sua consciência. Parece uma
tarefa impossível, não é mesmo? Mas vamos procurar analisar alguns fatores que
nos ajudarão a evitar uma escolha irrefletida e conseqüentemente, fadada ao
fracasso.
A Doutrina da Alma, conforme é explicada pelos cabalistas, irradia luz
sobre esse assunto. O Zohar prega que todas as almas existem desde o início da
Criação. De fato, esse livro sagrado do judaísmo vai além, afirmando que essas
almas pré-existentes já estavam pré-formadas em sua inteligência individual
enquanto ainda se encontravam escondidas no útero da eternidade. Quanto o
Criador ‘pensou’ (imaginou) o mundo, todas as almas foram concebidas com essa
idéia divina, cada uma com sua forma peculiar. Assim concluímos que, sendo nós
uma criação da Mente Divina, existimos desde que Deus começou a imaginar o
mundo manifestado.
Neste ponto vale a pena lembrar o Primeiro Princípio Hermético - Deus é
Mente, o Universo é Mental. Depois, quando Deus ‘formou’ o mundo, as almas
foram moldadas e materializadas e se apresentaram perante Ele para procurar sua
tarefa no caminho de evolução. É desse ponto de vista que podemos interpretar a
‘expulsão do Paraíso’, que de fato, expulsão é, uma idéia rudimentar daquilo
que atualmente chamamos de ‘inteligência extra-terrestre’, ou seja, forças
inteligentes externas à vida física, prontas para se manifestarem.
A idéia de que as almas são essencialmente ‘forças inteligentes’, torna-se
cada vez mais enraizada, especialmente por causa do interesse que os cientistas
modernos demonstram acerca dessa tese. Creio que ela pode parecer bastante
natural, se ao menos paramos para pensar sobre a questão da vida inteligente no
universo.
Segundo o Zohar, essas inteligências existiam muito antes da Criação do
Mundo. Elas estavam como que latentes dentro da Luz Infinita. De fato, as almas
não são nada mais do que centelhas ou chispas divinas, com um Desejo de Receber
próprio que as impele a serem alimentadas de Luz. Elas foram criadas dentro do
Universo sem fim e fazendo parte dele. Ou seja, as almas são um Desejo de
Inteligência e como tais, anseiam receber a Luz!
Bonito, não é?
Bem, mas o que acontece depois que essas forças são efetivadas, ou seja,
que elas tomam forma? Como essas vidas inteligentes se tornam manifestadas no
nosso Universo? Na manifestação, ou seja, no mundo da Criação, (explicado na
Cabala como segundo estagio) existe a dualidade, e portanto a alma inicial é
dividida em dois para poder se manifestar na matéria (terceiro e quarto
estagio). Então podemos concluir que, ao se manifestar na Terra, a alma procura
sempre encontrar a sua contraparte. Mas essa contraparte poderá ser encontrada
somente quando for conseguido um particular nível de espiritualidade, um estado
alterado de consciência, superior aos desejos inerentes do corpo encarnado.
Lembrando que o corpo é somente o veículo físico, a alma deveria encontrar sua
‘outra metade’ na outra alma encarnada. É por isso que falamos em ‘alma gêmea’
e não em ‘corpo gêmeo’!
Mas é especialmente a alma ‘macho’ que precisa fazer esse caminho
espiritual, já que a alma ‘fêmea’, já nasce com esse conhecimento. De fato ela
já encarna dotada do conhecimento do nível de Binah, (que é a Sefiroth da
Estrutura da Forma) e portanto ela já encarna sem a necessidade de lutar para
encontrar esse nível de conhecimento para esse propósito.
Assim, parece que a alma ‘fêmea’ encarna com uma maior sensibilidade
natural, mesmo se nem sempre ela compreende seu valor. O corpo físico, que
inclui as emoções e o intelecto, representa somente 1% da manifestação de seu
total. Ou seja, enquanto a alma encarnada estiver movida por esse 1% estará
cometendo erros após erros. Então, quando procuramos nossa alma gêmea, não é
suficiente sentir atração física e emocional, precisamos também e
principalmente reconhecer a Luz no interior da outra pessoa.
O amor que depende de algo físico, desaparece quando este algo desaparece.
Assim, o amor baseado na atração física, desaparece quando essa termina. O amor
baseado no status social (ou qualquer outra condição) desaparece quando essa
condição não está mais presente.
Qual a mensagem? Se não amamos a Luz no interior da outra pessoa, não
amamos realmente essa pessoa.
Assim, amar é algo maior do que a condição física de amar. O amor
verdadeiro implica em compreender que o AMOR - tal como nós o praticamos - foi
criado como um treino para que aprendamos a amar a Força da Luz do Criador
dentro de todas as criaturas!
E aí está a resposta para nosso problema! O Amor transcende uma determinada
pessoa, mesmo se é numa pessoa que encontraremos esse amor e, portanto, a nossa
‘alma gêmea’!
Será que conseguiremos procurar amar a centelha divina que existe em todas
as criaturas? Somente assim nunca nos sentiremos vazios e solitários como
quando um amor - físico - acaba! Quando acaba o ‘fator 1%’ devemos pensar que
estamos ainda com o restante, os outros 99%; como então nos sentir sozinhos?
Não deveria ser o contrário?
Vamos fazer um exercício: imaginem um cofrinho de guardar centavos (como
aqueles de antigamente). Ele está repleto de moedinhas que representam atos de
amor.
Ao abrí-lo podemos escolher se gastar todas essas moedinhas de uma só vez,
com um grande amor, por exemplo, ou com uma só pessoa, ou se gastar cada
pequena moedinha (cada pequeno gesto ou palavra de amor), uma por dia, com
muitas pessoas, carentes de nosso carinho! Uma palavra de amor hoje, um gesto
de amor amanha... e... milagre, poderemos verificar que nosso cofrinho não se
esvaziará nunca! Pois a Luz Divina continuará a enchê-lo com outras tantas,
milhares de pequenas moedinhas!
Os atos de amor se multiplicam; Somente o Amor atrai o Amor.
Amem profundamente e sem restrições
e seu cofrinho permanecerá sempre cheio!