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sábado, 27 de agosto de 2011

Ninguém pode servir a dois senhores


"Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou há de aborrecer um e amar outro, ou há de submeter-se a este e desprezar aquele. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon." (Mateus, 6:24.).

Mamon era um dos deuses adorados pelos sírios, na antiguidade. Representava as riquezas e daí suas estátuas serem fundidas em metal precioso: ouro ou prata.
Malgrado o desaparecimento desses ídolos, Mamon continua sendo cultuado por grande parte da Humanidade, pelos cristãos inclusive.

De fato, a luta absorvente pela conquista de bens materiais a que quase todos nos entregamos, a par das homenagens e salamaleques que tributamos aos ricaços e poderosos, que significam, senão o mais fervoroso culto a essa divindade gentílica? As palavras acima revestem-se, pois, ainda hoje, de grande oportunidade, constituindo séria advertência a quantos, invertendo o preceito evangélico: "buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça e o resto vos será concedido por acréscimo", atravessamos toda a existência cuidando apenas de fazer fortuna, vivendo no mais grosseiro materialismo, na suposição de que depois, por meio de ofícios religiosos, possamos ganhar, também, o paraíso.

O texto em foco, entretanto, é muito claro e não autoriza que alimentemos tal ilusão. Não disse o Mestre, notemos bem, que os homens não devem servir a Deus e a Mamon, mas que o não podem fazer. Por que não podem?

Por uma razão fácil de entender-se: os interesses mundanos e os ideais superiores não se correspondem, nem se harmonizam; são, antes, duas forças divergentes, antagônicas, atuando em sentidos opostos.

Quem concentra toda a sua atenção nas riquezas e honras mundanas não tem tempo para pensar nas coisas de cima, e quanto mais progride materialmente, quanto mais aumenta os seus tesouros, mais necessita defendê-los. E, nesse afã, mais fortifica os liames que o prendem a este plano, mais retarda sua evolução.

Compadecido, certamente, de nossa insensatez, eis o que nos dita "um Espírito protetor", em mensagem inserta no cap. XVI de "O Evangelho segundo o Espiritismo":

"Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que quase nenhum tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade.
Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a Humanidade, quando não se trata, na maioria dos casos, senão de vos pordes em condições de satisfazer a necessidades exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos.
Que de penas, de amofinações, de tormentos cada um se impõe; que de noites de insônia, para aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes! Por cúmulo de cegueira, pão raro é ver-se, prevalecendo-se de uma existência ídita de sacrifício e de mérito — como se trabalhassem para os outros e não para si mesmos —, aqueles que um amor imoderado da riqueza e dos gozos que ela proporciona sujeita a penosos trabalhos.
Insensatos! Credes, então, realmente, que vos serão levados em conta os cuidados e os esforços que despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho, enquanto que negligenciais do vosso futuro, bem como dos deveres que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das vantagens da vida social?
Unicamente no vosso corpo haveis pensado; seu bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da vossa solicitude egoística. Por ele, que morre, desprezastes o vosso Espírito, que viverá sempre. Por isso mesmo, esse senhor amimado e acariciado se tornou o vosso tirano; ele manda sobre o vosso espírito, que se lhe constituiu escravo. Seria essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou?"

Atentos a esse conselho amigo, não nos deixemos dominar pelo amor ao ouro, nem pelas paixões que a sua posse suscita e desenvolve nos homens, fazendo até que olvidem o destino transcendente para o qual foram criados.

Lembremo-nos de que, ao deixarmos este mundo, só levaremos conosco aquilo que efetivamente nos pertence: as qualidades morais. E serão elas, somente elas, que nos garantirão o acesso às regiões felizes da espiritualidade.

Contribuição do amigo Júlio Sérgio de Moraes

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Tolerância e Respeito

Tolerar é bom, mas respeitar é melhor. Respeitar é bom, mas amar é melhor!



O que significa a palavra tolerância? E respeito? Tratamos o próximo da mesma forma que gostaríamos de ser tratados? Somos severos para com os outros e indulgentes para conosco ou severos para conosco e indulgentes para com os outros? Que tipo de subsídios o Espiritismo nos oferece para uma melhor interpretação do tema?


Tolerância – do latim tolerantia, do verbo tolerare que significa suportar. É uma atitude de respeito aos pontos de vista dos outros e de compreensão para com suas eventuais fraquezas. Esta palavra está ligada a outros termos afins: paz, ecumenismo, diferença, intersubjetividade, diálogo, alteridade, não violência etc.
Respeito – do latim respectus, de reespicere que significa olhar. Sentimento de consideração àquelas pessoas ou coisas dignas de nossa veneração e gratidão, como aos pais, aos mais velhos, às coisas sagradas, aos sentimentos alheios etc.

A virtude é a potência de um ato. É a atualização do que já existe no âmago do ser. A virtude do abacateiro é produzir abacate. A virtude do santo é produzir santidade. Segundo Aristóteles, a virtude deve ficar no meio, ou seja, nem se exceder para cima e nem para baixo. O relacionamento entre vício e virtude coloca-nos frente à lei da utilidade marginal decrescente, a qual nos ensina que o excesso de uma coisa pode transformar-se no seu oposto. Assim sendo, o excesso de humildade pode transformar-se em orgulho e o excesso de orgulho pode transformar-se em humildade. Tomemos o exemplo de Paulo. Depois da perda e recuperação de sua visão, no deserto de Damasco, o orgulhoso combatente de Cristo tornou-se o seu mais humilde servidor.

Existem formas falsas e verdadeiras de tolerância. Um exemplo de forma falsa é a do ceticismo, aquela que aceita tudo, subestima todas as divergências doutrinais, porque parte do princípio de que é impossível aproximar-se da verdade. A verdadeira tolerância é humilde, mas convicta. Respeita as idéias e condutas dos demais, sem desprezá-las, mas também sem minimizar as diferenças, porque sabe que é a contradição que leva ao bem comum. Nesse sentido, a frase atribuída a Voltaire, "Não concordo com nada do que você diz, mas defenderei o seu direito de dizê-lo até o fim", é providencial para elucidar o respeito que devemos ter para com os nossos semelhantes, sejam de que condições forem.

O RESPEITO SEGUNDO KANT
Em Kant, o respeito é o único sentimento comparável com o dever moral. Não é um sentimento "patológico" que procede da sensibilidade – como todos os outros – ou seja, da parte passiva do nosso ser. Ele procede da vontade. Em sua Fundamentação da Metafísica dos Costumes, define-o como a consciência da imediata determinação da vontade pela lei, ou seja, como a apreensão subjetiva da lei. Embora tenha certas semelhanças com as inclinações naturais e o temor, distingue-se de ambos porque não resulta de uma impressão recebida, mas de um conceito de razão. (Dorozói, 1993).

A TOLERÂNCIA É PASSIVA E O RESPEITO ATIVO
A palavra tolerância relaciona-se com o substantivo "respeito" e o verbo "suportar". Conseqüentemente, devemos não somente respeitar como também suportar Deus, o próximo e a nós mesmos. Suportar a nós mesmos deve vir em primeiro lugar, porque não há peso mais pesado do que o nosso próprio peso. Quantas não são as vezes que pensamos estar agradando aos outros e não percebemos o elevado grau de grosseria, hostilidade e autoritarismo que lhes causamos. Eles acabam nos aturando porque não têm outra saída. É o caso do relacionamento entre o funcionário e o seu chefe. Se não lhe obedecer, estará sujeito a perder o emprego.
A tolerância obriga-nos a respeitar a regra de ouro: "Não fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem". Evitar fazer mal aos outros é uma atitude meramente passiva. O respeito, ao contrário, carrega uma polaridade ativa: "Amar ao próximo como a nós mesmos". De acordo com Aristóteles, enquanto o respeito constitui uma virtude que nunca pode pecar por excesso, porque quanto mais respeito se tem mais se ama, a tolerância é o exemplo de uma virtude que se obriga ao meio termo porque, em excesso, resulta em indiferença, e, em falta, traz o sabor da intolerância. (Marques, 2001).

TOLERÂNCIA, RESPEITO E ESPIRITISMO
 LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE
A Lei de Justiça, Amor e Caridade ajuda a compreender a tolerância. Segundo o entendimento desta lei, a justiça, que é cega e fria, deve ser complementada pelo amor e pela caridade, no sentido de o ser humano conviver pacificamente com o seu próximo. Observe alguém, sem recursos financeiros, jogado ao sofrimento, como conseqüência de atos menos felizes do passado. Há justiça divina, porque nada ocorre por acaso. Mas o amor e a caridade dos semelhantes podem mitigar a sua sede e a sua fome.

CRISTO É O PONTO CHAVE DA TOLERÂNCIA
A base da tolerância está calcada na figura de Cristo. Foi Ele que nos passou todos os ensinamentos de como amar ao próximo como a nós mesmos. Ele nos deu o exemplo, renunciando a si mesmo em favor da humanidade. Fê-lo, sem queixas e sem recriminações, aceitando sempre as determinações da vontade de Deus e não a sua. Em suas prédicas alertava-nos que deveríamos ser severos para conosco mesmos e indulgentes para com o próximo, e não o contrário.

O RESPEITO AO PRÓXIMO
Respeitar o próximo é não lhe ser indiferente. É procurar vê-lo no interior do seu ser. Diz-se que o sábio pode se colocar no lugar do ignorante, mas este não pode se colocar no lugar do sábio, porque lhe faltam condições para bem avaliar o que é sabedoria, conhecimento e evolução espiritual. Contudo, os amigos espirituais nos alertam que penetrar no âmago do próximo não é tarefa fácil. Podemos fazer algumas ilações, algumas tentativas, mas como pensar com a cabeça do outro?
Numa Casa Espírita, o respeito ao próximo deve ser praticado com cada colaborador. Respeitar aquele que escolheu se dedicar aos animais, aquele que escolheu se dedicar ao trabalho de assistência social, aquele que escolheu transmitir os ensinamentos doutrinários. Nesse mister, não há trabalho mais ou menos importante, porque todos concorrem para a divulgação dos princípios doutrinários do Espiritismo.

CONCLUSÃO:
O Espiritismo, entendido como ciência, filosofia e religião, é o que mais subsídios nos dá para respeitar as crenças e os comportamentos do nosso próximo. Isto porque, "quanto mais o ser humano sabe, melhor compreende os comportamentos humanos, desarmando-se de idéias preconcebidas, da censura sistemática, dos prejuízos das raças, de castas, de crenças, de grupos".

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.
DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.
GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]
MARQUES, Ramiro. O Livro das Virtudes de Sempre: Ética para Professores. Portugal: Landy, 2001.
XAVIER, F. C. Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1973